Yoga e o desenvolvimento do Ser Integral

“Yoga significa essencialmente a integração da personalidade em todos os níveis possíveis: físico, mental, social, intelectual, emocional e espiritual.”
Manohar Loxman Gharote

Estamos no século 21 e o modelo mental ocidental atual ainda favorece uma análise fragmentada do indivíduo. 

No Prefácio do livro “Estudos sobre o Yoga”, Lilian Cristina Gulmini, nos convida a refletir: 

Temos, de um lado, descrições dos processos físicos e fisiológicos, mas eles não se tratam necessariamente dos sentimentos e da personalidade de um homem. Por outro lado, temos estudos e informações acerca do homem enquanto ser psicológico, mas eles não necessariamente estabelecem correlações com os processos e problemas de seu corpo físico. E, por último, deixamos a religião, ou às religiões, a tarefa de cuidar do homem enquanto ser espiritual, embora poucas se preocupem com os problemas psicológicos. Ao mesmo tempo, certos saberes científicos com relação ao corpo físico e psicológico do homem não levam em consideração o fato de que estes processos fisiológicos e mentais estão ocorrendo sob a testemunha e supervisão de uma alma – que aliás, não tem sido tratada como assunto da ciência, e da qual, portanto, pouco se trata – cuja experiência ainda é posta em dúvida por muitos – inclusive cientistas. (Rodrigues et al., 2006) 

Na contramão, as doutrinas orientais representam um recurso precioso para a humanidade contemporânea, pois consideram o indivíduo humano como um ser multidimensional e, acima de tudo, auto- transcendente. 

O desejo de transcendência e liberdade é um impulso atemporal, presente em todas as épocas. O ser humano busca a liberdade, apesar de muitas vezes não reconhecer este desejo.

Hoje, a Psicologia Transpessoal, bem como a física quântica contribuem para elevar este impulso à liberdade à categoria de uma necessidade consciente. Porém é na sabedoria inigualável das doutrinas orientais da India e extremo Oriente, que o Ocidente poderá encontrar enfim os caminhos para a liberdade. (Feuerstein, 2006)

O Yoga é um dos seis sistemas da filosofia indiana, e enquanto filosofia, reconhece que sem uma boa saúde física e mental não é possível o acesso a estados profundos de concentração, pois corpo, mente e espírito interagem. 

... o objetivo do Yoga é único: a evolução integral do homem e o alcance de níveis superiores de consciência, culminando em um estado de absoluta liberdade e felicidade. (Rodrigues et al., 2006) 

O propósito do yoga é gerar e manter a saúde de forma integral, sem fragmentações. Integração é um dos valores essenciais dessa prática.

Podemos começar pelo corpo físico. Há pessoas por toda parte que se queixam de dores nas costas, dores de cabeça, dores nas articulações, tensão nos ombros, crises de gastrite, altos índices de colesterol, diabetes, entre outros. Estudos afirmam que os efeitos sentidos no corpo podem surgir como consequência de diversos fatores do plano mental, como ansiedade, angústia, fobias, depressão, crise e conflitos. 

A prática de ásanas – posturas psicofísicas do Yoga - celebra o templo do corpo e ajuda a cultivar a saúde do corpo físico, promovendo estabilidade, agilidade, flexibilidade, resiliência e vitalidade.

Sendo o Yoga, uma prática que promove a saúde integral, os benefícios da prática de ásanas não se limitam apenas ao corpo físico. Os ásanas  tem efeitos sobre o humor, ajudam na liberação de hormônios da felicidade que reduzem o nível de estresse e ansiedade, promovendo bem-estar e qualidade de vida. 

Flexionando e recolhendo os membros do corpo, os yogins mudam instantaneamente de estado de espírito: tornam-se interiormente tranquilos, o que lhes facilita em muito o esforço de concentração da mente. (...) Às vezes, os iniciantes na prática do Yoga têm dificuldade para detectar essas mudanças interiores, talvez porque prestem demasiada atenção às tensões musculares. Com a prática, porém, qualquer um pode descobrir os efeitos das diversas âsanas sobre o humor, e é então que o verdadeiro trabalho interior pode começar. (Feuerstein, 2006) 


As posturas servem para livrar a mente de tensões ou inquietações, para que os mecanismos sutis de percepção possam ser acionados, proporcionando ao praticante maior relacionamento com ele mesmo, reestabelecendo um grau de intimidade entre seu corpo e sua mente. E então o corpo influencia a mente, e o praticante se sente psicologicamente mais calmo, menos reativo, mais presente.

O passo seguinte consiste em energizar o ambiente interior através das práticas de prânayâma - ou exercícios de respiração. A respiração é um caminho para adentrarmos em nós mesmos, é o elo entre o consciente e o inconsciente, entre o corpo e a mente.

Etimologicamente, a palavra sânscrita prânayâma significa domínio sobre o prâna – energia vital, a energia que anima tudo que tem vida. 

A prática conjunta de posturas e do controle da respiração produz uma interiorização progressiva. Quando a consciência fica efetivamente isolada do ambiente, chega-se ao estado de abstração dos sentidos ou inibição sensorial, que promove a concentração ou atenção fixa em um único objeto de contemplação, promovendo a contenção da mente em um estado de imobilidade. A concentração prolongada conduz naturalmente o praticante a mergulhar cada vez mais profundo no ambiente interior da mente, o que facilita o processo de meditação.

O princípio básico que envolve a meditação é o desenvolvimento da consciência interna. Nenhuma meditação é possível sem que se forme um suporte psicofísico adequado. As condições do corpo e da mente refletem diretamente na qualidade da meditação. “Pureza de mente e meditação andam lado a lado e uma apóia a outra”. (Gharote, 2002) 

E então, a integração corpo-mente permite que o praticante tenha uma ideia do que é ser saudável de espírito, do que é SER INTEGRAL.

A simplificação extrema da vida, a calma, a serenidade, a posição corporal estática, a respiração ritmada, a concentração em um só ponto etc., todos estes exercícios buscam o mesmo fim, que é abolir a multiplicidade e a fragmentação para reintegrar, unificar e totalizar. (Eliade, 1996) 

Embora o Yoga não seja a solução para todos os nossos problemas e muito menos a cura para as doenças do mundo, é comprovado que a prática de ásanas (posturas), exercícios de respiração, relaxamento e meditação, tem influência positiva no nosso nível de energia, na nossa saúde, na nossa vida.

Os resultados maiores ou menores a serem alcançados pelo praticante naturalmente dependem dele mesmo... Cada um deve aprender a fazer e tem de fazer em si mesmo, por si mesmo, consigo mesmo. Isto só se alcança por uma definitiva autotransformação, envolvendo todo o imenso sistema que cada homem é: corpo, energias, emoções, inteligência e espírito . (Hermogenes, 2013) 


A partir do trabalho com o corpo, ao tranquilizar e aquietar a mente, o Yoga propicia um mergulho na dimensão espiritual, garatindo a integração corpo-mente-espírito. Esta integração favorece a expansão da consciência, criando espaço para o autoconhecimento e reconhecimento do Ser Integral. 

Referências Bibliográficas:

ELIADE, Mircea. Yoga: imortalidade e liberdade. 5a. ed. São Paulo: Palas Athena, 1996. 398p. 

FEUERSTEIN, Georg. A Tradição do Yoga. São Paulo: Pensamento, 2006. 576p. 

GHAROTE, M Manohar, Yoga Aplicada: da teoria à prática. 2a. ed. São Paulo: Phorte, 2002. 175p.

HERMOGENES, José, Autoperfeição com Hatha Yoga: um clássico sobre saúde e qualidade de vida. Editora Nova Era, 54a. ed. Rio de Janeiro: Nova Era, 2013. 440 p.. 

RODRIGUES, MR, Deveza C, Santanella DF, Filla JAM, Gulmini LC, Di Benedetto MAC, et al. Estudos sobre o Yoga, São Paulo: Phorte; 2006.150p. 

Anterior
Anterior

O que é Psicologia Transpessoal